POLÍTICA
E GASTO SOCIAL FEDERAL NO GOVERNO
FERNANDO
COLLOR DE MELLO (1990-1992)
No
momento seguinte à Constituição, vai ocorrer a rearticulação do bloco
conservador,
que se torna ainda mais forte no começo dos anos 1990 com a
vitória
de Fernando Collor. Esta gestão foi marcada pela implantação de políticas
públicas
que geraram grave desorganização financeira no país, assim como
pela
ampla abertura da economia nacional ao mercado internacional.
No
campo social, a gestão Collor foi caracterizada pelo objetivo de obstrução
dos
novos direitos sociais que haviam sido inscritos na Constituição de
1988,
aproveitando-se para tanto da tramitação da legislação complementar
que
consolidaria os preceitos constitucionais. Para tanto, de acordo com Fagnani
(1997),
foram efetuadas várias manobras políticas e administrativas: simples
descumprimento
das regras estabelecidas pela Constituição; veto integral a
projetos
de lei aprovados pelo Congresso; desconsideração dos prazos constitucionais
estabelecidos
para o encaminhamento dos projetos de legislação complementar
de
responsabilidade do Executivo; interpretação espúria dos
dispositivos
legais; e descaracterização das propostas por meio do veto parcial
a
dispositivos essenciais.
A
seguridade social foi um dos focos privilegiados dessa nova investida
conservadora.
Na previdência social, houve, em primeiro lugar, uma tentativa
de
desvincular os benefícios previdenciários do valor do salário mínimo,
contrariando
o
Art. 58 do Ato das Disposições Transitórias (ADCT). Apesar das
idas
e vindas, a lei que regulamentava o Plano de Organização e Custeio da
Seguridade
Social foi aprovada, introduzindo profundas distorções na base de
financiamento
da seguridade, pois, ao invés de ampliar o comprometimento
fiscal
da União com a seguridade, deslocou recursos da seguridade para financiar
encargos
típicos do orçamento fiscal, como o são os Encargos Previdenciários
da
União (EPU). Outro alvo privilegiado do ataque conservador foi o Sistema
Único
de Saúde (SUS), que teve sua estrutura de financiamento atingida seriamente
com
o veto presidencial a 25 itens da Lei Orgânica da Saúde, a maior
parte
concentrada nos esquemas de financiamento (Fagnani, 1997).
Políticas
Sociais no Brasil: Gasto Social do Governo Federal de 1988 a 2002 267
Médici
e Maciel (1995) mostram que
entre
1990 e 1992, os gastos em saúde foram significativamente reduzidos. Tomando-se
por
base os gastos do Governo federal, observa-se que eles apresentaram uma queda
de
30,5%,
passando de US$ 11,1 bilhões para US$ 7,7 bilhões. A desagregação dos
dados
de estados e municípios para 1992 não é suficiente para avaliar o impacto da
crise
nos
gastos públicos em saúde nessas instâncias. Sabe-se, no entanto, que as
transferências
federais,
cuja participação é expressiva nos gastos locais em saúde, também apresentaram
quedas
substanciais. As transferências federais a estados passaram de US$ 2,9
bilhões
para US$ 237 milhões.
Os
dados apresentados por Médici mostram que o gasto social do governo
federal
no período Collor cai a valores inferiores àqueles verificados antes da
Constituição:
gastos que já tinham atingido cerca de US$50,0 bilhões caem
para
apenas US$ 43,0 bilhões em 1992. Para Oliveira (1999),
durante
a administração Collor, os gastos sociais reduziram-se sensivelmente, como
parte
integrante da estratégia implementada para a realização de um ajuste fiscal,
visando
viabilizar
o processo de estabilização, sem que maiores esforços tenham sido desenvolvidos
no
sentido de aumentar sua eficiência e eqüidade e adequar a ação governamental,
nessa
área, às novas demandas das políticas sociais. Na prática, a redução dos
recursos
destinados à cobertura dessas demandas, principalmente por parte do Governo
Federal,
continuou avançando de forma descoordenada no processo de
descentralização
de encargos para as esferas subnacionais, sobrecarregando suas finanças
e
modificando, gradativamente, a equação da responsabilidade pelo financiamento e
execução
do gasto entre as unidades da federação, com prejuízos para seu desempenho.
O impeachment
de Collor truncou temporariamente esse
processo de
desconstrução.
Mas deixou como herança, na área social, um conjunto de programas
e
políticas caracterizados pelos traços de fragmentação, clientelismo,
centralização
dos
recursos no nível federal, e com baixo poder de combate à pobreza
e à desigualdade.
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